Texto: Estar vivo, Paula Gicovate


Texto sobre a vida, texto sobre estar vivo, ansiedade
Texto: Estar vivo, Paula Gicovate

Estar vivo

 Às vezes estar vivo requer: comprimidos de passiflora, comprimidos um pouco mais fortes, chá pra dormir, ligação com a mãe, dançar até suar, chorar no banho, sonífero, calmante, aromaterapia, psicanálise, passe, massagem, amigos que te dizem: estou mal também.

Estar vivo às vezes demanda uma coragem doente de acreditar que amanhã, daqui a pouco, só por hoje, as coisas vão melhorar. Um pouquinho de cada vez.

 

Estar vivo também é sobre tomar caldos, engolir água salgada, bater a cabeça na areia e voltar tonto (eu só queria um mergulho).

 

Demanda oração, novena de vó, tapear a angústia como se ela fosse uma pessoa (mas na verdade é um planeta) tomar banho pelo simples fato de praticar uma ação. Aliás, para permanecer vivo é necessário ação – mesmo que em algum dia se trate de apenas respirar.

 

Estar vivo às vezes dá um trabalho do cão. Gosto dos que estão aqui na luta de transformar a dor em uma coisa bonita e significativa (estar vivo), porque me mostram que não estou sozinha na batalha.

 

Mas veja: estamos respirando, e os dias estão passando, e continuamos aqui.

 

Continuaremos aqui. E de toda lágrima no chuveiro nasce uma flor no ralo, prometo, que um dia te mostro que a vida dói, mas tem sentido, é bonita, e se apresenta para os que teimam.

 

Eu mal posso esperar para continuar viva. E para te ver.


Paula Gicovate


Paula Gicovate nasceu em Campos dos Goytacazes em 1985 e mora no Rio de Janeiro desde 2004. Cursou Letras – Formação de Escritor na PUC-RIO. Publicou dois livros de contos - “Sobre (o) Tudo que Transborda” e “D4” , e em 2014 lançou seu primeiro romance “Este é Um Livro Sobre Amor” pela editora Guarda-Chuva. Além de livros e roteiros,também escreve cartas de amor.